Pular para o conteúdo principal

Animais e a peste - Monteiro Lobato

 Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas.

- Esta peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.

- Qual? – perguntou o leão.

- O mais carregado de crimes.

O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:

- Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o acrifício necessário ao bem comum.

A raposa adiantou-se e disse:

- Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão.

Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.

Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência.

E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.

Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:

- A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário.

Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra:

- Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário.

Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimamente eleito para o sacrifício.


Moral da Estória:

Aos poderosos, tudo se desculpa…

Aos miseráveis, nada se perdoa.


Monteiro Lobato

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A série "Anne with an E" tem algo a ver com a coleção de livros da "Anne" de L. M. Montgomery?

     Sim, tem a ver. A série produzida pela Netflix foi feita com base na série de livros de Lucy Maud Montgomery publicada em 1908. As três temporadas produzidas até agora mostram, basicamente, a história do primeiro livro, porém a história é um pouco diferente nas duas versões.      A série trás mais detalhes nos momentos vividos por ela e por outros personagens. Alguns desses personagens até não foram adicionados. No final da terceira temporada, Anne Shirley e Gilbert Blythe assumem um relacionamento mas isso não aconteceu nessa ordem nos livros. Além disso, no momento em que assumiram compromisso, os dois deveriam estar indo para a Queen's (que é como uma escola de Ensino Médio) e Gilbert não poderia ir para a faculdade com a idade dele.      Enfim, as duas produções tem a ver uma com a outra, mas tem diferenças e o período de tempo que retratam é diferente. O que posso dizer é que os livros vão adiante. Em "Anne de Ingleside", por exempl...

Google Word Coach

   Você conhece essa ferramenta do Google? Não? Então eu vou te explicar...    Para quem está ou quer treinar o Inglês, esse truque é ótimo para ajudar na memorização de palavras, objetos, etc. Além disso, é super fácil de acessar, basta digitar  "Google Word Coach"  no seu navegador que, no celular, é aberta essa ferramenta.       Não está disponível em todos os países, como por exemplo os Estados Unidos que a língua oficial é a Língua Inglesa, mas no Brasil e outros países da América Latina está. E já que temos essa alternativa de treinar o vocabulário, temos que aproveitar. Inclusive, a própria ferramenta envia notificações no seu celular para você não esquecer de treinar.      É muito fácil e legal, não é? Você já achou uma maneira de improve your English e eu espero ter te ajudado com este texto. Até a próxima! Escrito por Larissa Parkert.

Os Viajantes e o Urso - Esopo

Um dia dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho o urso, se jogou no chão e fingiu-se de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar sua orelha, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou: – O que o urso estava cochichando em seu ouvido? – Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo. Moral da história: A desgraça põe à prova a sinceridade e a amizade. Esopo.