Acordei. São duas da manhã. Não há relógio digital em meu quarto, mas eu sei que são duas da manhã. Eu sempre acordo nesse maldito horário. Encaro o teto escuro, não vou voltar a dormir tão cedo. Levanto e sento na cama encarando a parede escura. Após alguns minutos, ligo a luz do meu quarto.
Branco.
Por alguns segundos, tudo o que vejo é branco. Os móveis do meu quarto levam alguns instantes até voltarem a forma. Mas eu não me importo, eu tenho tempo. Vai ser uma longa madrugada. Encaro a parede branca à minha frente até ela ficar vermelha. A luz da lâmpada faz a parede sangrar e isso me causa enjoo. Desvio o olhar. Procuro o meu canto. Aquele em que a luz não consegue tocar. Bordô. Igual veludo. Essa visão acalma meus nervos.
Respiro fundo.
Toda vez essa mesma merda: Inspira, segura, expira. Mais uma vez. Inspira, segura, expira. Se eu soubesse respirar pelo diafragma não precisaria passar por isso. Levanto-me. Meus pés tocam o chão frio. Calafrio na espinha. Olhos mais abertos, acordado totalmente. Olho ao meu redor, tudo sangra. Dá próxima vez, eu faço virar mato. Posso até ouvir o vento balançando as folhas.
Grito.
Não me importo se acordar alguém. Por que só eu mereço passar por isso? Começo a tossir, acho que fui muito intenso. Minha garganta dói. Inferno. O pior de tudo é que não estou me sentindo melhor. Latidos. Acordei os cachorros. Eu não consigo dormir com barulhos. Volto novamente para a cama. O teto sangra também. Acho que vou chorar até o sono voltar.
Escrito por Vitor A. Vogt, em 2 de março de 2020.
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